Enxaqueca crônica: saiba o que há de mais moderno no tratamento da doença

Todo mundo conhece alguém com enxaqueca. O desafio é compreender se a doença está sendo diagnosticada e tratada de forma adequada. Será que tomar analgésicos todos os dias é uma boa ideia? A enxaqueca crônica, ou migrânea crônica, é uma doença neurológica marcada por crises de dor intensas e incapacitantes, geralmente acompanhadas de náuseas, vômitos, sensibilidade à luz, sons e cheiros, além de intolerância ao exercício.
Pode haver ainda os fenômenos de aura, como alterações visuais e formigamentos. É uma condição com forte componente genético, mas profundamente influenciada pelo ambiente e pelos hábitos cotidianos. Muitos pacientes abusam de analgésicos, acreditando estar tratando a doença, mas isso acaba cronificando a dor. Segundo a OMS, cerca de 15% dos brasileiros convivem com enxaqueca, impactando diretamente a produtividade, a saúde mental e a qualidade de vida.
A revolução do CGRP e os anticorpos monoclonais
Desde os anos 1970, sabe-se que o CGRP (Peptídeo Relacionado ao Gene da Calcitonina) está diretamente ligado à origem da enxaqueca. Essa substância, naturalmente presente no organismo, é produzida em maior quantidade por quem tem a doença. Ela atua na dilatação dos vasos cerebrais e nas conexões dos gânglios trigeminais, amplificando a dor.
Recentemente, a medicina passou a bloquear o CGRP de forma específica por meio dos chamados anticorpos monoclonais. São medicamentos injetáveis (erenumabe, galcanezumabe e fremanezumabe) aplicados por via subcutânea, com bons resultados clínicos e poucos efeitos adversos. Por isso, são considerados uma das maiores inovações no combate à enxaqueca crônica.
Além deles, há outras opções preventivas: medicamentos orais de diferentes classes, aplicação de toxina botulínica terapêutica em pontos específicos da cabeça e pescoço, e os chamados Gepants — nova classe de remédios com ação direta sobre o receptor do CGRP, úteis tanto na prevenção quanto no alívio de crises.
Neuromodulação, estilo de vida e abordagem integrada
Outra linha promissora é a neuromodulação não invasiva, que inclui estimulação elétrica transcutânea e estimulação magnética transcraniana. Em casos mais graves, pode-se considerar neuromodulação invasiva ou até cirurgia para descompressão de nervos periféricos relacionados à dor.
Mas o tratamento vai além dos medicamentos: exige mudanças de estilo de vida, identificação e controle de gatilhos, prática de atividade física e suporte psicológico. O neurologista tem papel central nesse processo, orientando cada etapa com base no perfil individual de cada paciente. É possível viver melhor mesmo com enxaqueca — e essa melhora começa com diagnóstico preciso, informação de qualidade e acompanhamento médico adequado.
*Por Dr. Lauro Sideratos (CRM 162531 – RQE 76.172)
Médico neurologista, titular da Academia Brasileira de Neurologia, membro da Sociedade Brasileira de Cefaleias e da Movement Disorders Society.
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