A conquista do tri faz 55 anos e é uma das vitórias mais marcantes da seleção
Por THIAGO R MORAES
20/06/2025 - 11h20
Neste sábado (21), uma das maiores conquistas da história da seleção completa 55 anos: o emblemático tricampeonato mundial de futebol. O Brasil estava em êxtase naquele domingo de junho de 1970. Eram quase cinco horas da tarde. Na TV, Geraldo José de Almeida soltava a voz: “Viva feliz minha terra dourada, porque essa conquista ninguém poderá esquecer”. O radinho de pilha também estava ligado em casa, sintonizado na Jovem Pan, reforçando a sinfonia de vozes dos narradores. Joseval Peixoto extravasava: “Essa deusa de ouro de braços erguidos. Essa deusa tão jovem, com velhas histórias, erguida para o alto, para o céu do Brasil”.
A deusa de ouro era a taça Jules Rimet, agora em posse definitiva da seleção brasileira. Era como se nas últimas duas horas os 90 milhões de brasileiros tivessem assistido à apresentação de uma orquestra. Foi talvez o maior espetáculo de futebol em todos os tempos. O maestro, então com 29 anos, considerado o Rei do futebol, chegou ao ápice da técnica, da experiência e da genialidade. A goleada sobre a Itália por 4 a 1 foi o coroamento de Pelé e do melhor futebol do mundo. O duelo, no Estádio Azteca, na Cidade do México, fechou uma campanha irrepreensível: 6 jogos e 6 vitórias. No total, foram 19 gols marcados e 7 sofridos.
Naquele domingo histórico, eu acordei por volta das 8 da manhã e segui à risca a música Sou Tricampeão, dos Golden Boys: “Eu hoje, igual a todo brasileiro/Vou passar o dia inteiro/Entre faixas e bandeiras coloridas/Parece, até que eu estava em campo (…)”. Eu morava no bairro da Bela Vista, em São Paulo, e, ansioso, fui jogar bola na rua com os meus amigos. Depois, almocei com meus pais e fui para frente da televisão, ainda com imagens em preto e branco. O jogo começou às 15h. Aquela Copa é marcante do ponto de vista das comunicações: pela primeira vez, o mundo assistiu a um mundial ao vivo, via satélite. A transmissão, a partir do México, já vinha em cores, mas poucos aparelhos tinham a tecnologia.
Todo esse relato que fiz é quase 100% verdadeiro: o Brasil foi campeão, aquela seleção é considerada até hoje pela imprensa esportiva mundial como a melhor em todos os tempos e a Copa de 1970, no México, também é tida como a melhor da história. A parte fantasiosa é que eu não era nascido. Nasci em 1976, seis anos depois. No entanto, antes mesmo de virar jornalista, eu já tinha uma obsessão por vasculhar o passado, era fanático pela história das Copas e, principalmente, pela seleção de 1970. Em uma época pré-internet, no início dos anos 90, eu ligava insistentemente para as emissoras de TV pedindo cópias das partidas do Brasil. Depois de conseguir os seis jogos, saí à caça dos demais 26 daquele Mundial e consegui. Perdi a conta de quantas vezes os assisti, principalmente aos jogos do time brasileiro, treinado por Zagallo, que enfrentou Tchecoslováquia, Inglaterra, Romênia, Peru, Uruguai e Itália.
Ainda nos tempos de escola, escrevi à máquina cerca de 20 páginas sobre o desempenho da seleção em 1970. O primeiro livro que li sobre os Mundiais de futebol foi “As Copas que ninguém viu”, do jornalista Solange Bibas. Bibas detalhava, por exemplo, bastidores das Eliminatórias em 1969, quando a seleção ainda era comandada pelo polêmico e genial João Saldanha. Enquanto o homem pisava na Lua pela primeira vez, as “Feras de Saldanha” estavam concentradas para os duelos contra Colômbia, Venezuela e Paraguai.
O time brasileiro se classificou, com destaque para Tostão, artilheiro com dez gols, e carimbou o passaporte para o México. Saldanha foi demitido por motivos, até hoje, não totalmente esclarecidos. Zagallo assumiu, reuniu estrelas de primeira grandeza do futebol nacional e conquistou a Copa. A epopeia do tricampeonato chega aos 55 anos. Mas parece que foi ontem.
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