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Caieiras,02/08/2025

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Paul Krugman ironiza Trump: quer 'governar o mundo', mas não vive sem o suco de laranja do Brasil

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Paul Krugman critica Trump por tarifa de 50% aplicada ao Brasil
O economista e vencedor do Nobel Paul Krugman voltou a criticar o presidente Donald Trump nesta sexta-feira (1º) após a nova rodada de tarifas anunciada ontem, classificando a medida como ilegal e politicamente desastrosa.
Em artigo, Krugman afirma que o governo dos EUA está utilizando barreiras comerciais como instrumento de pressão política, e que “quem imagina que os EUA podem usar a ameaça de tarifas para forçar grandes mudanças políticas no exterior está sofrendo de delírios de grandeza”.
Krugman voltou a citar o caso brasileiro como o mais emblemático. O país foi alvo de tarifas de até 50%, bem acima das aplicadas a outros parceiros comerciais. Mas, mais grave, segundo ele, é o motivo alegado por Trump: punir o Brasil por processar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Na verdade, praticamente tudo o que Trump tem feito em matéria de comércio é ilegal, mas no caso do Brasil é escancarado”, diz o economista.
“Não acho que nem o advogado mais ardiloso e sem escrúpulos conseguiria encontrar algo na legislação dos EUA que dê ao presidente o direito de impor tarifas a um país, não por razões econômicas, mas porque ele não gosta do que o Judiciário desse país está fazendo”, escreveu.
Krugman lembra que a legislação americana permite a imposição de tarifas temporárias em situações específicas — como proteção a indústrias estratégicas, práticas comerciais desleais ou emergências econômicas. Nenhuma dessas justificativas, segundo ele, se aplica ao caso brasileiro.
O economista também questiona a eficácia da estratégia. Embora o mercado americano seja importante, ele representa apenas 12% das exportações brasileiras.
“Trump e seus assessores realmente acham que podem usar tarifas para intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes a abandonar seus esforços de defesa da democracia, quando 88% das exportações brasileiras vão para países que não são os Estados Unidos?”, provocou.
Krugman também destaca a contradição nas exceções feitas pelo governo americano. O suco de laranja — 90% importado do Brasil — foi poupado das tarifas, enquanto o café, que ele chama de “um nutriente essencial”, não teve o mesmo privilégio.
“Isso é uma admissão implícita de que, ao contrário do que Trump afirma constantemente, quem paga as tarifas são os consumidores americanos, não os exportadores estrangeiros.”
Na avaliação do economista, as sanções têm provocado um efeito político contrário ao desejado. Assim como no Canadá, onde a pressão americana fortaleceu o governo liberal, as ameaças contra o Brasil parecem ter impulsionado a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
“Trump pode achar que pode governar o mundo, mas ele não tem o 'suco' — nem de laranja, nem de outra coisa”, concluiu Krugman, em referência irônica à exceção feita ao produto brasileiro.
Paul Krugman em encontro com Biden na Casa Branca, em agosto de 2023
Adam Schultz/Official White House Photo
Veja o texto de Krugman abaixo
Como disse ontem, Donald Trump não está “vencendo sua guerra comercial”. Ele está impondo muitas tarifas, e até agora ninguém o impediu, mesmo que suas ações sejam claramente ilegais. Mas “vencer” uma guerra comercial, se isso significa algo, seria usar tarifas para obter concessões significativas de outros países. E embora alguns parceiros comerciais importantes, especialmente a União Europeia, estejam fazendo de conta que cedem, quando se observa o que realmente estão fazendo, é só fumaça.
Trump é um negociador incompetente, facilmente enganado? Talvez. Mas, mais fundamentalmente, ele simplesmente não tem força. O mercado dos EUA é grande, e negar acesso a esse mercado prejudica outros países. Mas não os prejudica tanto assim, e quem imagina que os EUA podem usar a ameaça de tarifas para forçar grandes mudanças políticas no exterior está sofrendo de delírios de grandeza.
Considere o caso do Brasil.
De certa forma, as ações de Trump em relação ao Brasil são excepcionais, mesmo dentro do contexto de sua ruptura sem precedentes com 90 anos de política tarifária dos EUA. Para começar, o Brasil está enfrentando tarifas de 50% — consideravelmente mais altas do que qualquer outro país.
Além disso, as exigências de Trump ao Brasil são diferentes das que ele faz a outros países. A União Europeia e o Japão foram alvo por supostas práticas comerciais desleais, embora nunca tenha ficado claro quais seriam essas práticas. O Canadá está sendo alvo por alegações de que é uma fonte importante de fentanil — o que é mentira, mas seria uma queixa legítima se fosse verdade. Já no caso do Brasil, Trump vinculou explicitamente as tarifas à ousadia do país em julgar Jair Bolsonaro, o ex-presidente, por tentar reverter uma eleição que perdeu.
Ou seja, Trump é inimigo da democracia e da responsabilização de aspirantes a autoritários — mas isso já sabíamos. Além disso, é completamente ilegal que um presidente dos EUA use tarifas para tentar influenciar a política interna de outro país. Presidentes têm certa margem de manobra para definir tarifas, mas há um número limitado de justificativas legais para impor tarifas temporárias:
Para dar fôlego a uma indústria americana diante de um aumento repentino de importações (Seção 201)
Para preservar uma indústria essencial à segurança nacional (Seção 232)
Práticas desleais de comércio exterior (Seção 301 e tarifas antidumping)
Presidentes também podem alegar poderes adicionais durante uma emergência econômica — mas Trump continua insistindo que a economia dos EUA está ótima, o que presumivelmente significa que não há emergência.
Na verdade, praticamente tudo o que Trump tem feito em matéria de comércio é ilegal, mas no caso do Brasil é escancarado. Não acho que nem o advogado mais ardiloso e sem escrúpulos conseguiria encontrar algo na legislação dos EUA que dê ao presidente o direito de impor tarifas a um país, não por razões econômicas, mas porque ele não gosta do que o Judiciário desse país está fazendo. (Últimas palavras famosas?)
Portanto, o confronto com o Brasil ilustra de forma especialmente clara a ilegalidade da onda tarifária de Trump. Também mostra, no entanto, a diferença entre o poder que Trump aparentemente acha que tem e a realidade.
Tenho visto artigos dizendo que os Estados Unidos são o segundo parceiro comercial mais importante do Brasil. Isso nem é verdade, a menos que se ignore o fato de que, em termos de comércio internacional, a União Europeia faz jus ao nome, apresentando uma frente unificada em matéria de tarifas. De qualquer forma, é importante perceber que os EUA não têm um peso tão grande assim nas exportações totais do Brasil. Veja a divisão do ano passado:
Trump e seus assessores realmente acham que podem usar tarifas para intimidar um país com mais de 200 milhões de habitantes a abandonar seus esforços de defesa da democracia, quando 88% das exportações brasileiras vão para países que não são os Estados Unidos?
E tem mais: a administração Trump isentou o suco de laranja fresco — 90% do qual é importado do Brasil — das tarifas. Aparentemente, precisamos do que o Brasil nos vende. E isso é uma admissão implícita de que, ao contrário do que Trump afirma constantemente, quem paga as tarifas são os consumidores americanos, não os exportadores estrangeiros.
O que alguns de nós querem saber é por que o suco de laranja, que dá para viver sem, recebeu isenção, enquanto o café — um nutriente absolutamente essencial — não.
Como era de se esperar, as tarifas parecem estar tendo um efeito político contrário. Ecoando o que aconteceu no Canadá, onde a pressão de Trump claramente salvou o governo liberal de perdas eleitorais massivas, as ameaças contra o Brasil fizeram maravilhas pela popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, o atual presidente:
Como eu disse, Trump pode achar que pode governar o mundo, mas ele não tem o 'suco' — nem de laranja, nem de outra coisa. Na verdade, ele está dando ao mundo uma lição involuntária sobre os limites do poder dos Estados Unidos.

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