Tarifas dos EUA geram incertezas e podem ter efeitos setoriais e cambiais, aponta Fazenda

As novas tarifas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros de setores estratégicos acenderam o alerta na área econômica do governo. A Secretaria de Política Econômica (SPE), vinculada ao Ministério da Fazenda, avalia que os impactos sobre o crescimento do PIB em 2025 devem ser limitados, mas admite que alguns setores industriais tendem a ser mais afetados, especialmente os ligados à indústria de transformação. “Considerando esse panorama, o impacto das tarifas tende a ser pouco significativo no crescimento de 2025, embora alguns setores da indústria de transformação possam ser especialmente prejudicados”, destacou a SPE em seu boletim mais recente.
Além da dimensão macroeconômica, o secretário Guilherme Mello ressaltou que os efeitos mais imediatos observados até agora foram no câmbio, com leve desvalorização do real. “O maior impacto é o câmbio, que teve uma pequena desvalorização nos últimos dias no real, mas nada que altere de maneira significativa as projeções brasileiras. Tem que observar o que vai acontecer nas próximas semanas.”
Na avaliação da Fazenda, o Brasil pode até experimentar efeitos deflacionários em certos segmentos do mercado interno, caso as tarifas sejam mantidas: “Brasil é um grande exportador de café, carne… Caso mantido as tarifas, pode significar a maior oferta no mercado doméstico e ter efeito deflacionário. É muito precoce qualquer impacto inflacionário”.
O relatório da SPE também destaca que as projeções fiscais e de crescimento divulgadas neste boletim ainda não incorporam os efeitos das tarifas norte-americanas: “Essas projeções ainda não consideram os impactos potenciais da elevação na tarifa de importação dos EUA para o Brasil de 10% para 50%”.
O secretário enfatizou ainda a dificuldade de se estimar impactos no momento atual, especialmente no que diz respeito a eventuais retaliações via tarifas de importação pelo Brasil: “Como se usa na lei da reciprocidade, mas não é algo que está dado, anunciado, construído, então é muito difícil trabalhar com hipóteses. Uma vez que nós tivermos informações mais claras sobre como esse processo vai terminar, obviamente vamos fazer as nossas simulações de impacto e trazer isso para dentro”.
Pacote tributário e IOF: resposta fiscal busca compensar déficit
O Boletim também reforçou a pressão fiscal enfrentada pela União. Com uma projeção atualizada de déficit primário de R$ 97 bilhões para 2025, o governo precisou anunciar um contingenciamento de R$ 20,7 bilhões para cumprir a meta estabelecida pela LDO, que admite um limite de déficit de R$ 31,07 bilhões considerando o novo regime fiscal.
Parte desse esforço envolveu a reformulação da política tributária, após a revogação de medidas do Decreto 12.466/2025, que alterava a cobrança do IOF sobre operações de crédito, câmbio e previdência privada. A proposta original visava corrigir distorções, reduzir a regressividade e combater elisão fiscal, mas foi revertida parcialmente e, depois, suspensa pelo Congresso. O governo aguarda a aprovação de novas medidas pelo Congresso para consolidar o impacto sobre a arrecadação.
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