Depois do tri, a seleção voltou para casa e cumpriu protocolos com o regime militar

A Folha de S. Paulo de 22 de junho de 1970 trazia na manchete principal: “Eles voltam amanhã com a taça”. O roteiro estava pronto: “A chegada ao Rio de Janeiro está prevista para entre 16 e 17hs de terça-feira (23) e os jogadores viajarão em um Boeing da Varig especialmente fretado que sairá hoje (22) da Cidade do México, por volta das 23hs locais. O voo será direto até Brasília, com almoço marcado entre 11 e 12hs, e às 15hs, a viagem prosseguirá com destino ao Rio.” Na véspera, a seleção brasileira tinha derrotado a Itália por 4 a 1, na Cidade do México, e garantiu o terceiro título mundial (1958-1962-1970).
Em Brasília, os campeões foram recebidos por uma multidão de 70.000 pessoas na Praça dos Três Poderes. Um helicóptero jogava papeizinhos com a seguinte mensagem ufanista: “Somente com a nossa união, somente com a ordem, com a soma da vontade de todos, com a soma da energia de todos, com trabalho, serenidade, coragem, inteligência, determinação e patriotismo, com a participação de todos os brasileiros haveremos de fazer a década que se inicia, sob o signo da Taça de Ouro, a década de ouro do Brasil.”
Os atletas cumpriram protocolo: se encontraram com o presidente Emílio Médici, no Palácio do Planalto e, depois, no Alvorada, foram recebidos com almoço. Médici e a primeira dama, Scyla, seguraram orgulhosos a Jules Rimet. O encontro teve direito a bolo e presentes aos jogadores, de acordo com a Placar: “O presidente abraçou os jogadores, um a um, perante a multidão reunida em frente ao Palácio do Planalto. Em seguida ofereceu um almoço à delegação e a sobremesa foi muito apreciada. Por cortesia da Caixa Econômica Federal, cada tricampeão recebeu um cheque de 25.000 cruzeiros (valor equivalente a um Corcel zero e mais um troco). Médici ainda prometeu a concessão para exploração de lojas de loteria esportiva, o que, na época, era uma mina de dinheiro.” O governo decretou ponto facultativo nas repartições federais.
Já na Guanabara, a seleção também desfilou em carros dos bombeiros, ao seguir pelos principais pontos da cidade do Rio, como avenida Presidente Vargas, praias do Flamengo e do Botafogo, até o Hotel Plaza, em Copacabana, onde a delegação passou a noite. No dia seguinte, os jogadores dos demais estados puderam finalmente embarcar para casa. A festa ainda se repetiu em Belo Horizonte, com homenagens a Tostão, Piazza, Dario e Fontana. Em Porto Alegre, Everaldo foi ovacionado. Pelé seguiu direto para Santos e não participou de eventos em São Paulo.
Abaixo, ouça a cobertura feita pela Jovem Pan das comemorações pelo Brasil em 21 de junho de 1970.
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