‘Só aqui você vê um roubo de carrocinha de cachorro-quente com fuzil’, diz secretário de segurança pública do Estado do RJ

Tráfico de drogas e a proliferação de armas ilegais, elementos que coexistem quando o assunto é facção criminosa. Em todo o Estado do Rio de Janeiro, são cerca de 1800 favelas e comunidades urbanas. Na cidade maravilhosa, 813. Muitas delas, dominadas pelo tráfico que está presente nestes e em outros vários lugares.
De acordo com Victor César dos Santos, atual Secretário de Segurança Pública, o Rio de Janeiro não é um narcoestado porque o Governo ainda detém o controle: “Falar do narcoestado é dizer que o Estado perdeu o controle. Eu acho que não chegamos a esse ponto. Medidas têm que ser tomadas para que isso não se torne uma realidade. O que a gente vê é um crescimento desenfreado de anos de comunidades e a desordem é um ambiente favorável ao criminoso. Você vê, no Rio de Janeiro, ‘micro soberanias’, territórios comandados por faccções criminosas faz anos!”.
“O maior desafio que nós temos no RJ é a quantidade de fuzis nas mãos dos criminosos”
Victor César dos Santos diz que o maior desafio da pasta é lidar com um problema que ele chama de cultural no Estado do Rio de Janeiro: a entrada de fuzis em toda a região. Utilizada pelos criminosos para conquistar e expandir territórios, o secretário diz que “a ferramenta que viabiliza tudo são os fuzis. Isso a gente não encontra em outro Estado! A gente apreende dois, três fuzis por dia. Em janeiro deste ano, a polícia militar apreendeu 84 fuzis. Na Bahia, no ano passado inteiro, foram 78 fuzis apreendidos. No Rio de Janeiro, é uma cultura. Só aqui você vê um roubo de carrocinha de cachorro-quente com fuzil. Roubo de veículo com fuzil“.
O secretário explica que a posse de fuzis por criminosos é comum em todo o Brasil, mas que, no Rio de Janeiro, existe uma certa ostentação. Ele compara com São Paulo, onde os criminosos usam os fuzis para roubar instituições financeiras, agências e carros-forte: “No Rio, banalizou a utilização do fuzil. Você vai ver um carro com quatro criminosos com quatro fuzis para roubar um carro. Se somar, talvez, o valor dos fuzis que eles estão portando, é mais caro do que o carro que eles estão roubando. Essa cultura do Rio de Janeiro, dessa ostentação do fuzil, isso é uma característica do Rio. O maior desafio é a quantidade de fuzis na mão dos criminosos porque o fuzil é o instrumento que mais potencializa a insegurança. Um tiro de fuzil assusta as pessoas”, diz o secretário.
Victor César dos Santos conta que, de acordo com o censo de 2022, o número de favelas cresceu 40% em todo o Brasil. “Se somar o número de favelas para transformar isso em um Estado, seria o terceiro maior Estado do Brasil”, diz o secretário. Ele relaciona o assunto ao crime: “Se já sabemos que a desordem, que o problema habitacional gera a migração de criminosos para essas regiões, a gente tem que fazer um trabalho de retomada do território, tirando das organizações criminosas. É uma tarefa fácil? Não!”, pontua.
“A PEC da Segurança Pública não resolve em nada o problema!”
A Proposta de Emenda à Constituição da Segurança Pública está em tramitação na Câmara dos Deputados e visa reformular a gestão da segurança pública em todo o país, buscando integração com projetos como a criação do chamado Sistema Único de Segurança Pública e ainda garantir a autonomia para corregedorias das polícias e guardas municipais. Nas palavras do secretário: “Na prática, a PEC da Segurança Pública não resolve em nada o problema e tem muito a ver com questões sindicalistas das Polícias Federal e Rodoviária Federal”. Mas, Victor Cesar dos Santos vê como positiva a garantia do chamado Fundo Nacional de Segurança na Constituição Brasileira.
COMENTÁRIOS