Publicidade

Seja bem-vindo
Caieiras,08/05/2025

  • A +
  • A -

O que quer Putin ao levar Lula, Xi e líderes do Sul Global a Moscou?

Publicidade


Ao menos 20 líderes estrangeiros aceitaram o convite do presidente russo para participar das celebrações em Moscou do aniversário de 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista. Sob o governo de Vladimir Putin, celebrações do Dia da Vitória se tornaram maiores e mais importantes.
Getty Images via BBC
Ao menos 20 líderes estrangeiros aceitaram o convite de Vladimir Putin para participar, em 9 de maio, das celebrações em Moscou do aniversário de 80 anos da vitória soviética sobre a Alemanha nazista na 2ª Guerra Mundial.
Entre os nomes que devem desembarcar na capital russa nos próximos dias estão o chinês Xi Jinping e o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
A chegada de Lula está prevista para esta quinta-feira (8/5). O líder brasileiro posteriormente segue para Pequim, para uma visita de Estado à China e participação no IV Fórum China-CELAC entre 12 e 13 de maio.
O convite da Rússia para participar do chamado Dia da Vitória, celebrado todos os anos em diversas partes do país, também foi acolhido por outras lideranças de países do chamado Sul Global, como os chefes de Estado de Cuba, Sérvia, Eslováquia, Indonésia e das ex-repúblicas soviéticas.
Para especialistas em política externa russa consultados pela BBC Brasil, Putin usa a data comemorativa para incitar o patriotismo entre a população russa, ao mesmo tempo em que busca mostrar ao resto do mundo que não está isolado e vem fortalecendo sua posição como liderança alternativa ao Ocidente.
"Para a Rússia, nesse momento, é muito importante demonstrar que existem países que aderem à sua órbita de influência", avalia Gulnaz Sharafutdinova, diretora do Instituto Rússia da King's College London.
"E a orientação em relação ao Sul Global encaixa na narrativa do Kremlin de se posicionar como uma alternativa ao Ocidente imperialista", completa.
Lula desembarca na Rússia para participar das celebrações dos 80 anos do Dia da Vitória
Resgate de um 'passado vitorioso'
O principal evento em torno do Dia da Vitória é o desfile militar na Praça Vermelha. Sob o governo de Vladimir Putin, a partir de 2008, a parada passou a ser anual e se tornou uma demonstração de força das tropas e equipamentos militares, além de uma chance de lembrar os sacrifícios da 2ª Guerra Mundial.
O resgate do passado, aliás, é uma parte central da data para o Kremlin, explica Sergey Radchenko, historiador e professor da Universidade Johns Hopkins.
"[O 9 de maio] é um feriado importante na Rússia e um momento simbólico para Putin", diz. "Quase nada na história russa se compara à forma como a vitória na 2ª Guerra Mundial é vista no país."
E segundo Radchenko, o momento é utilizado para canalizar o sentimento patriótico da população e difundir a imagem de uma Rússia vitoriosa e poderosa — algo que se tornou ainda mais importante para o governo desde o início da guerra contra a Ucrânia.
Soldados soviéticos empilham objetos capturados de seus inimigos alemães em Murmansk, na Rússia.
Getty Images via BBC
As lembranças em torno da vitória da então União Soviética (URSS) sobre a Alemanha nazista ainda servem como uma forma de legitimar as políticas contemporâneas do Estado russo e traçar paralelos entre o passado e o presente, diz o historiador e professor da Escola de Estudos Internacionais Avançados da Johns Hopkins.
"Os aparatos de propaganda russos vendem a ideia de que o governo está lutando contra o nazismo na Ucrânia da mesma maneira que fez entre 1941 e 1945, e que esta também é uma guerra patriótica que exige sacrifícios", afirma.
Um dos argumentos centrais de Vladimir Putin para justificar a invasão da Ucrânia é o objetivo de "desnazificar" o país. Apoiadores da Ucrânia rejeitam essa acusação e contra-argumentam que o presidente, Volodymyr Zelensky, é judeu.
"O [Kremlin] passou a construir praticamente um culto à 2ª Guerra Mundial na Rússia e a torná-lo mais popular entre o público, especialmente porque a geração mais velha, que lutou e acompanhou a guerra, está aos poucos morrendo."
E a presença de chefes de Estados estrangeiros, dizem os especialistas, torna ainda possível para Putin difundir sua mensagem também para o exterior, em primeira mão.
'Coalizão com o Hemisfério Sul'
Mas, certamente, o maior objetivo do Kremlin com as visitas é fortalecer laços e se posicionar como um ator forte, relevante e bem conectado, diz Radchenko.
"Para Putin, ter alguém como Xi Jinping ao seu lado, durante o desfile, projeta uma imagem de aliança para o resto do mundo", afirma o especialista, acrescentando ainda que a presença de países como o Brasil ainda passa a ideia de que o Sul Global está ao lado da Rússia.
Ao mesmo tempo, avalia Gulnaz Sharafutdinova, a presença das lideranças estrangeiras serve ao Kremlin como forma de dar mais legitimidade para sua política externa dos últimos anos.
"Especialmente desde a invasão (da Ucrânia), criou-se [na Rússia] a imagem de um Ocidente imperialista e colonialista e de uma Rússia que luta pelos direitos dos países menores de seguirem seu próprio caminho e construírem alianças alternativas", diz.
E segundo a professora especializada em política russa, ter os presidentes de países como Brasil e Eslováquia ao lado de Putin, em Moscou, ajuda com essa mensagem "antiocidental".
"De certa forma, isso sinaliza que existe uma coalizão com o Hemisfério Sul", afirma.
Putin e Lula em encontro em 2010 em Moscou.
Getty Images via BBC
Ainda de acordo com Sharafutdinova, levar autoridades para a Rússia durante um período de guerra demonstra uma certo "controle sobre a situação".
"Para o Kremlin é uma forma de sinalizar para o resto do mundo que a Rússia pode garantir a segurança desses líderes e sabe o que está fazendo", afirma.
Putin propôs um cessar-fogo de 3 dias durante as comemorações de 9 de maio.
O desfile em Moscou também é geralmente utilizado para uma demonstração de poder bélico, com a exibição de tanques e outros armamentos de guerra.
Desta vez, porém, ainda não está claro se o Kremlin será capaz de manter a tradição, já que muitos dos aparatos estão sendo utilizados no campo de batalha na Ucrânia.
Oportunidade de negociação?
O evento na capital russa ainda é visto como uma oportunidade para encontros bilaterais e negociações paralelas entre os líderes presentes.
O Kremlin já confirmou que Vladimir Putin deve se reunir de forma privada com alguns de seus convidados — e um encontro do líder russo com Lula é esperado, segundo a imprensa brasileira.
Para Sergey Radchenko, da Universidade Johns Hopkins, o encontro de maior atenção deve ser com o presidente chinês Xi Jinping.
Durante evento em Brasília na semana passada, Celso Amorim, assessor especial de assuntos internacionais da Presidência, disse que será uma espécie de "mensageiro da paz" durante sua viagem para a Rússia.
"O presidente Lula levará a mensagem de forte apoio às negociações de paz nas viagens que fará, em alguns dias, a Moscou e Pequim", disse Amorim durante a abertura da reunião de assessores de Segurança Nacional dos Brics, no Itamaraty, na quarta-feira (30/4).
Putin e Xi Jinping durante cúpula dos Brics em Kazan, Rússia, em 2024.
Getty Images via BBC
O chefe de Estado brasileiro já tentou se posicionar no passado como uma espécie de mediador para o conflito entre Rússia e Ucrânia.
Há cerca de um ano, Brasil e China apresentaram uma proposta conjunta de paz durante a reunião de cúpula dos Brics realizada em Kazan, na Rússia, em outubro do ano passado.
O plano incluía, entre outras coisas, o comprometimento com a não expansão do campo de batalha e não escalada dos combates, um aumento da ajuda humanitária para as pessoas afetadas pela guerra em ambos os lados, e a realização de uma conferência internacional de paz com participação igualitária de todas as partes relevantes.
Na época em que foi anunciada, a proposta foi elogiada por Putin, mas rejeitada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Mas para Gulnaz Sharafutdinova, o presidente brasileiro não deve ter um papel relevante na continuidade das negociações pela paz.
"Não acho que Lula será usado nas negociações sobre a Ucrânia. No momento, os maiores atores são Rússia, Ucrânia, EUA e Europa. Esses são os lados que importam", diz.
'Ninguém pode me dizer para onde ir'
Além dos cerca de 20 líderes estrangeiros que confirmaram sua presença nos eventos do Dia da Vitória, outros chefes de Estado foram convidados, mas recusaram.
O primeiro-ministro indiano Narendra Modi, por exemplo, não poderá comparecer diante do aumento de tensão entre seu país e o Paquistão, após um ataque mortal na Caxemira, disse o Kremlin.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, também foi convidado, mas já confirmou que não irá comparecer.
Putin e Trump ensaiaram uma aproximação nos primeiros meses do ano. Os dois tiveram algumas conversas telefônicas para negociar um acordo de paz na Ucrânia e chegaram até a discutir uma colaboração entre Rússia e Estados Unidos em projetos de mineração.
Mas a relação deles oscila entre afagos e pressões conforme as tensões geopolíticas globais. Trump primeiro elogiou o fato de as conversas terem sido muito produtivas. Depois, diante da lentidão em se chegar a um cessar-fogo mais amplo, disse estar muito irritado com Putin — e ameaçou impor tarifas sobre países que comprassem petróleo russo.
Entre as autoridades que confirmaram presença, chamou atenção o primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico.
Lembrado por suas posições favoráveis ​​ao Kremlin, Fico afirmou que comparecerá às celebrações militares apesar dos apelos da União Europeia (UE) para que nenhum país membro aceitasse o convite russo.
"Ninguém pode me dizer para onde ir ou não ir", disse Fico, após a alta representante da UE para a Política Externa, Kaja Kallas, advertir que qualquer participação europeia no evento "não será considerada de forma leviana pelo lado europeu".

Publicidade



COMENTÁRIOS

Buscar

Alterar Local

Anuncie Aqui

Escolha abaixo onde deseja anunciar.

Efetue o Login

Recuperar Senha

Baixe o Nosso Aplicativo!

Tenha todas as novidades na palma da sua mão.